Americanas busca responsáveis por fraude contábil e investe em lojas físicas para recuperação

Após quase um ano de espera, investidores e analistas finalmente obtiveram uma visão clara das finanças da Americanas. Em uma teleconferência de quase duas horas, o CEO da empresa, Leonardo Coelho, detalhou os bastidores que encontrou ao assumir o comando da varejista.
Coelho revelou um quadro de fraude complexa e engenhosa que permeou a empresa, impulsionada por grupos isolados de executivos dentro da estrutura corporativa. A fraude foi particularmente concentrada na conta de fornecedores, utilizando VCPs (verba de propaganda cooperada e instrumentos similares) falsificados para inflar artificialmente os resultados.
Além disso, foram identificadas irregularidades em operações de risco sacado não registradas corretamente nos relatórios financeiros, práticas indevidas de despesas operacionais (opex), entre outras questões, inclusive no frete de fornecedores.
O montante total da fraude descoberto pela nova gestão até o final de 2022 totalizou R$ 22,5 bilhões. Coelho destacou que a empresa está considerando como e quando buscará reparações pelos danos causados.
Ele explicou que a estrutura de governança (compliance) da empresa era certificada por entidades renomadas, mas a manipulação dolosa dos controles internos pela alta direção possibilitou essa situação.
“Americanas foi vítima de fraude”, assegurou Coelho, enfatizando que as divulgações atualizadas de 2021 e 2022 representam compromissos com a verdade e os resultados estão livres dos efeitos da fraude.
A nova gestão está atuando em três frentes: recuperação judicial, investigação da fraude e transformação da empresa.
Com aproximadamente 1.600 lojas distribuídas por todo o Brasil e o Distrito Federal, e uma forte ligação dos consumidores com esse modelo de negócio, Leonardo Coelho ressaltou a forte aposta da empresa nas lojas físicas para sua recuperação.
O CEO destacou que a recuperação da Americanas passa pelo reajuste financeiro e pela renovação das lojas, buscando restabelecer a conexão histórica dos consumidores com a marca.
“Em 2023, as lojas físicas demonstraram resiliência”, enfatizou Coelho. “Os produtos agora serão adaptados às particularidades de cada localidade.”
Ele afirmou o foco renovado da empresa no cliente, algo que, segundo ele, a varejista havia negligenciado.
Na operação digital, afetada em termos de credibilidade, Coelho mencionou uma queda no tráfego do site, mas observou uma recuperação gradual.
A estratégia para o segmento digital é focar em categorias que não são oferecidas nas lojas físicas, como eletrodomésticos e linha branca. Ele também mencionou que a operação digital funcionará como um “hub de vendas”.
Além disso, a Americanas reconhece um ambiente online “mais competitivo” no varejo.
Por fim, o CEO salientou que as ações visam aprimorar a rentabilidade do universo digital de forma mais atrativa.
Ele enfatizou que a empresa não está interessada em investir em vendas com margens não atrativas e que mira um crescimento no Ebitda em um dígito alto por ano, a partir de 2025.